A dor nossa de cada dia.

A dor nossa de cada dia.

Quem inventou a dor? Foi Deus, o diabo ou o homem? Quem teve a ideia de colocá-la como acompanhante oficial de todos os seres humanos ao longo da vida? Quem foi o idealista que disse que ela tem valor? Se ela é tão boa como alguns insistem em proclamar por meio de versos e prosas por qual razão inventaram os analgésicos e os analistas? Já estou sentindo dor só de indagar acerca dela.

Os filósofos declaram que ela tem uma importante função de trazer desconforto para a mente. Os poetas optam por usá-la como matéria prima para seus poemas. Os artistas preferem transformá-la em gravura e expressá-la por meio de cores escuras e traços tortuosos. Os amantes preferem usá-la como álibe para se embebedarem e buscarem outros braços e abraços. Alguns líderes religiosos fazem dela um poderoso instrumento para culpar seus seguidores ou capachos.

Eu gosto da forma como as crianças e os idosos se relacionam com a dor. Quando as sentem, as crianças gritam e choram. Elas gostam de torná-la pública. Criança não gosta de dor privada. Tem sempre alguém que se compadece de um pequenino que chora e corre em sua direção. Os idosos, muitas vezes, voltam a ser crianças e também perdem a vergonha de sentir dor. Não fazem a mínima questão de esconder que está doendo o que outrora não doía. As costas, as pernas, os braços, a cabeça e outras peças mais.

Somos seres potencialmente sujeitos a todo tipo de dor. Podemos até não sentir muitas destas dores ao longo da vida, mas não podemos negar seu vasto e amplo cardápio.

Dor é algo muito particular. Cada um tem a sua e não podemos minimizar a de ninguém como também não temos o direito de afirmar ser a nossa  dor a maior de todas.  As dores vão desde as populares até as mais sofisticadas. A dor de cabeça é um exemplo de dor popular. Sentida por milhões de pessoas ao redor do mundo, talvez seja uma das mais populares de todas. Também existem dores relacionadas ao esforço físico em excesso. Esta muito comum em países de terceiro, quarto e quinto mundo. Existe ainda a dor da perda prematura de pais, filhos, familiares e amigos. Países em guerra sofrem constantemente desta dor. A dor do diagnóstico positivo quando deveria ser negativo e vice-versa. Existe a dor de pacientes quimioterápicos. É a dor de quem precisa sentir dor para que permaneça vivo. Há dores relacionadas ao abandono de pais e cônjuges. Existem as dores de pais que perdem os filhos para o tráfico e depois choram suas mortes. Existe a dor de filhos que perdem o pai ou a mãe para o vício do álcool. A dor de esposas de policiais honestos que morreram no exercício da profissão. A dor de pessoas que trabalham a vida toda e no fim são brindadas com uma aposentadoria que o impede de viver dignamente.

Que tipo de dor é a sua? Não tenha vergonha de senti-la. Você é humano. Jesus sentiu dor. Ele deixou claro para todos que os instantes de solidão cósmica que sua alma experimentou, doía profundamente. Por isto, como uma criança, ele fez questão de gritar na cruz.

A vida é, também, a arte de sentir dor sem deixar o rancor roubar-nos a candura da existência. Tão real quanto a dor é o amor de Deus. Tão forte quanto a morte é a presença do amado de nossa alma. Aquele que nos criou e gostou de fazê-lo. O meu desespero não está relacionado a todas as possibilidades de dor que, por ventura, venha viver e experimentar ao longo da vida. Meu maior medo é não perceber que a graça de Deus é suficiente para navegar no mar da existência e proporcionar-me um porto seguro todo dia pra minha alma.

Se você não tem medo de ser gente que sente, eu o convido a não ter medo de dançar com o sofrimento, quando este o chamar para valsar à força. Dance. Contudo, esteja certo de que a graça de Deus revelada em Cristo pode até não tirá-lo dos braços da dor durante uma ou duas canções. Mas, com certeza, no baile da vida eterna só haverá espaço para dançarmos com o eterno e amado de nossa alma.

Deus não me prometeu ausência de dor ao longo da vida. O que ele nos diz em letras garrafais e claras foi: “EIS QUE ESTOU CONVOSCO TODOS OS DIAS ATÉ A CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS“. Nenhuma dor pode roubar-me o prazer de deleitar-me no amor que emana daquele que é tudo em todos.

A ele seja a glória, ontem, hoje e eternamente. Amém.