O racionalismo matou meus heróis

Quero iniciar esta pastoral com duas definições. A primeira diz respeito ao significado de herói. Segundo a tradição literária, herói é uma figura  arquetípica que reúne em si os atributos necessários para superar de forma excepcional um determinado problema de dimensão épica. O termo herói designa, originalmente, o protagonista de uma obra narrativa ou dramática. Para os Gregos, o herói situa-se na posição intermédia entre os deuses e os homens, sendo, em geral, filho de um deus e uma mortal (Hércules, Peeseu), ou vice-versa (Aquiles). Portanto, o herói tem dimensão semi-divina. Já a segunda definição diz respeito aos racionalistas. Sem muita divagação filosófica é racionalista todo aquele que acredita que só podemos crer em algo que pode ser concebido pela lógica racional. Onde a razão é o fim de todas as coisas e o que não pode ser provado por ela não deve receber crédito. Um racionalista nunca conceberá uma serpente falando com uma mulher ou com a existência de um Deus soberano e bom com tantas atrocidades acontecendo no mundo sem que Ele, podendo, não se mexa.

Todos nós elegemos heróis ao longo da vida. Gente que chama a nossa atenção por suas palavras e feitos. Via de regra, elegemos indivíduos com características que admiramos, porém não temos oportunidade ou coragem para demonstrar. Ficamos estupefatos, quando os vemos superar obstáculos, aparentemente, intransponíveis.

Será que elegemos heróis ou criamos? Será que estes homens e mulheres por nós apreciados ou idolatrados são reais? Começo a chegar à conclusão de que não. Foi Cazuza, quem disse, em uma de suas letras que seus heróis morreram de overdose. Não seria o nascimento deles também produto de overdose? Começo a desconfiar que sim.

Começo a pensar que o excesso de algo ou a falta de alguma coisa nos joga para a obrigatoriedade de escolhermos ou criarmos heróis. Acredito que a ausência de um pai, no meu caso, fez com que me tornasse um caçador de heróis para ocupar esta lacuna afetiva.

Hoje, a dois anos de completar quarenta anos de idade, faço uma releitura destes meus heróis e percebo que o Deus da vida me conduziu por estradas tão diferentes das deles. Os meus heróis, infelizmente, optaram pelo chão das especulações filosóficas. Não creem na Bíblia como inerrante e infalível palavra de Deus. Recortam os textos, que pra mim são sagrados e geradores de esperança, como se nada significassem. Ainda ontem, me ensinavam a pensar com esperança e hoje desejam que eu apenas pense. Diziam-me, por exemplo, que eu deveria orar com fé na palavra de Deus. Hoje, definem oração como uma prática egoísta. Insistiam que o Deus das sagradas letras não poderia ser plenamente compreendido em todos os seus atos. Hoje afirmam que os alemães estavam certos, quando, no século dezenove, afirmaram que a Bíblia é uma grande produção humana e o deus que se revela ali, principalmente no Antigo Testamento, deve ser desconsiderado e combatido.

Não gosto de muita coisa na igreja evangélica em nosso país. Não gosto, por exemplo, de ser comparado com Edir Macedo, R.R.Soares, Valdemiro, Silas Malafaia, Apóstolo Estevam Hernandes. Sinto-me desconfortável quando as pessoas descobrem que eu sou pastor e passam a me tratar como um ser que detém poderes espirituais. Ou como alguém que não deu certo em área nenhuma da vida e optou por ser um líder religioso. Contudo, e apesar de tudo, não aceito que a estrada a seguir seja a da especulação filosófica, onde desacreditar de tudo, ou quase tudo, seja o máximo que podemos fazer em termos intelectuais. Ou que devemos abandonar o que a Bíblia nos ensina sobre Deus e a vida, e abraçar um caminho racionalista, onde a razão seja a fonte e o padrão infalível e inerrante de aferimento sobre a verdade.  Pois nesta escolha acabamos por fazer uso de um movimento pendular da história e voltamos ao que nada mais é do que o antigo pensamento do filósofo sofista grego Protágoras, que no quinto século antes de Cristo (c. 480-410 a.C.) afirmou: “O homem é a medida de todas as coisas.” – tudo isto foi ampliado e chegamos ao século 21 não mais em uma sociedade antropocêntrica, mas em uma sociedade antropolátrica.

Amo a Deus por duas razões: por Sua obra em meu coração e por se revelar de forma objetiva e clara em Sua Palavra, sabendo que Sua revelação não é estática, mas dinâmica, ou seja, Deus não se revelou somente em Sua Palavra, mas também na História, pois a História é o palco da glória de Deus, como bem afirmou João Calvino. Eu não amo um Deus à minha imagem e que age conforme a minha semelhança, eu amo o Deus que se revelou nas páginas das Escrituras Sagradas e na História. Eu desejo viver para glória do Deus que não poupou Jesus em meu favor. Anseio por viver eternamente com o Deus que em Seu plano de redenção resolveu me alcançar e me dar o privilégio de servi-Lo de todo o meu coração. Eu amo o Deus que desejou ser meu Pai e não apenas uma divindade de causa e efeito, ou ainda pior: um deus sem causa nem efeito.

Meus heróis morreram de overdose da razão, pois as muitas letras os fizeram delirar; porém o meu Deus, o Deus e Pai de Jesus Cristo está vivo e ativo. Creio em Deus Pai todo poderoso, amém.

Pastor Glalter Garcia Justo Rocha

A Revolta dos que Pensam

Pensar dói. Quando pensamos estamos nos exercitando. É por isto que logo após uma boa sessão de reflexão sentimos dores. Nossos hematomas ficam todos escondidos, mas estão lá. Nosso desgaste é igual ou maior do que qualquer atleta de alto impacto.

A palavra revolta é um substantivo feminino e seu significado denota insubmissão contra qualquer autoridade. Quero dizer que esse significado não é o proposto por este texto. Na verdade, desejo valer-me da derivação por metáfora que esta palavra me permiti usar. Segundo esta derivação, revolta seria perturbação, sentimento de raiva, de náusea que se expressa em atitudes, opiniões mais ou menos agressivas; indignação ou repulsa. Eu acredito que aqueles que resolvem pensar sentem-se desse jeito.

É uma pena que em nome de se adequar a um grupo organizado ou não, muitos tenham que cometer suicídio intelectual para se manter com tais pessoas. Como é comum mentes indagatórias serem colocadas de escanteio e rotuladas. Os rótulos são meios de estigmatizar e sufocá-las emocionalmente.

Sinto-me indignado e quero materializar aqui a minha revolta com todas as pessoas de dentro ou de fora da igreja de Cristo que afirmam que para abraçar a fé cristã é necessário anular-se como ser pensante. Essa declaração pode até, num primeiro momento, soar de forma razoável, mas ela é contrária a mensagem de Deus revelada na Bíblia.

Só os seres pensantes, criados a imagem e semelhança de Deus, podem receber e administrar o dom da fé. Deus só reparte esse santo presente com pessoas que têm condição de discerni-lo e reconhecer o seu valor inestimável. A Bíblia quando fala de fé, diz que ela é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem. (Hebreus 11.1) Ao invés de excluir a razão e o seu funcionamento, esse verso bíblico destaca a necessidade de sua presença.

Mas afinal de contas quem propôs que fé e razão se divorciassem e vivessem em casas separadas? Com certeza, a Bíblia nada tem haver com isto.

Muitas pessoas que hoje apregoam um viver espiritual que exclui a razão e a reflexão, já viveram imersos, ou pelo menos afirmam terem vivido, nesta prática num passado recente. O que houve com estas pessoas? Na maioria das vezes, elas declaram que o estudo exacerbado é nocivo a simplicidade da fé proposta por Cristo. Afirmam que o caminho de outrora trilhado por eles os levou a um profundo cansaço existencial e a um total desprezo pela vida de oração. Acrescentam ainda que eram hipócritas e viviam de impressionar as pessoas com um brilhantismo intelectual de fachada enquanto suas almas estavam ávidas pela água límpida da simplicidade da fé.

Estudar e, consequentemente, pensar faz tão mal assim? Estariam estes homens corretos em sua análise. Afinal de contas contra fatos não há argumentos. Será que é assim mesmo que devemos pensar? Minha resposta é: não. Acho que a presença de fatos também deve ser alvo de argumentos. A não ser que estejamos nos opondo à lei, imutável, da lógica, penso que tudo que se apresenta ou se afirme deve ser posto sobre a mesa e analisado acuradamente.

Todos os seres humanos podem possuir posturas pendulares. Assim como os opostos se atraem, também é verdade que os extremos se distanciam. Não poucas vezes encontramos pessoas com posturas extremadas. Gente que não conseguiu conviver com o desconforto de pensar e se relacionar com Deus de igual modo dizendo que ou se vive de um jeito ou de outro. Como se pudéssemos separar pensar de agir. Para essas pessoas, ou agimos sem pensar ou pensamos sem agir.

Não acredito que os ateus sejam os grandes adversários da igreja quanto a esse tema. Em minha opinião, foram os próprios crentes os grandes responsáveis por este marketing de que alguém de fé não se compromete com livros e análise extenuante de pressupostos teóricos acerca de algo.

Não sou racionalista nem desejo ser. Não acredito que todas as pessoas possuam o mesmo apetite literário e reflexivo para as questões da vida. Não vejo problema algum em pessoas que leem muito conviverem com outros que pouco ou quase nada se dedicam a arte de estudar laboriosamente. A minha crítica se dá pela postura que alguns adotaram de excluir uma coisa em detrimento da outra. Como se Deus exigisse que a opção de um caminho, seja ele de muito estudo ou não, tem o poder em si de me tornar fervoroso ou não em minha relação com Deus.

Paulo não tinha a habilidade de Pedro para jogar a rede de pescar ao mar, assim como Pedro não fora treinado para tornar-se um exímio conhecedor da religião judaica. Ambos foram gestados em matizes diferentes. No entanto, a dedicação intelectual e relacional de ambos com Deus era igual. Eles se dedicavam na expansão do reino de Deus com os dons que foram disponibilizados pelo Senhor para cada um deles.

Ser cristão é um misto de pensar com fazer. Não existe esta ideia, não cristã, de uma coisa sem a outra. Deus não pede que decidamos por qual caminho seguir. Ou seguimos por esta única estrada de pensar e viver ou iremos nos machucar e ferir outros com nosso estilo de vida.

Assumo a minha revolta com os que divulgam este cristianismo que não pensa. Que o Senhor nos livre de uma fé pragmática que afirma, sem dizer, que o caminho sobremodo excelente é o fazer para ser. Quando todos os leitores lúcidos das escrituras sagradas sabem que o que somos nada tem haver com o que fazemos, mas com o que Cristo fez por nós na cruz do calvário. Por isso, eu não sou por fazer, mas eu faço por ser.

Alma cansada e sem inspiração.

Barracão fechado.

Não há apito, não há passistas.

O silêncio rege a escola

E o barulho não pode me incomodar.

Não vejo cores, não vejo plumas.

Os carros não podem se mexer.

Barracão fechado só tem fachada.

Não há mais nada a celebrar.

É quarta-feira em minha alma.

Só há cinzas em meu ser,

Só há barulhos de intensa culpa,

Não há vontade de viver.

Sem colombinas, sem pierô,

Sem minha mascará,

Sem meu amor,

Sou alma triste,

Com muita dor.

A dor nossa de cada dia.

A dor nossa de cada dia.

Quem inventou a dor? Foi Deus, o diabo ou o homem? Quem teve a ideia de colocá-la como acompanhante oficial de todos os seres humanos ao longo da vida? Quem foi o idealista que disse que ela tem valor? Se ela é tão boa como alguns insistem em proclamar por meio de versos e prosas por qual razão inventaram os analgésicos e os analistas? Já estou sentindo dor só de indagar acerca dela.

Os filósofos declaram que ela tem uma importante função de trazer desconforto para a mente. Os poetas optam por usá-la como matéria prima para seus poemas. Os artistas preferem transformá-la em gravura e expressá-la por meio de cores escuras e traços tortuosos. Os amantes preferem usá-la como álibe para se embebedarem e buscarem outros braços e abraços. Alguns líderes religiosos fazem dela um poderoso instrumento para culpar seus seguidores ou capachos.

Eu gosto da forma como as crianças e os idosos se relacionam com a dor. Quando as sentem, as crianças gritam e choram. Elas gostam de torná-la pública. Criança não gosta de dor privada. Tem sempre alguém que se compadece de um pequenino que chora e corre em sua direção. Os idosos, muitas vezes, voltam a ser crianças e também perdem a vergonha de sentir dor. Não fazem a mínima questão de esconder que está doendo o que outrora não doía. As costas, as pernas, os braços, a cabeça e outras peças mais.

Somos seres potencialmente sujeitos a todo tipo de dor. Podemos até não sentir muitas destas dores ao longo da vida, mas não podemos negar seu vasto e amplo cardápio.

Dor é algo muito particular. Cada um tem a sua e não podemos minimizar a de ninguém como também não temos o direito de afirmar ser a nossa  dor a maior de todas.  As dores vão desde as populares até as mais sofisticadas. A dor de cabeça é um exemplo de dor popular. Sentida por milhões de pessoas ao redor do mundo, talvez seja uma das mais populares de todas. Também existem dores relacionadas ao esforço físico em excesso. Esta muito comum em países de terceiro, quarto e quinto mundo. Existe ainda a dor da perda prematura de pais, filhos, familiares e amigos. Países em guerra sofrem constantemente desta dor. A dor do diagnóstico positivo quando deveria ser negativo e vice-versa. Existe a dor de pacientes quimioterápicos. É a dor de quem precisa sentir dor para que permaneça vivo. Há dores relacionadas ao abandono de pais e cônjuges. Existem as dores de pais que perdem os filhos para o tráfico e depois choram suas mortes. Existe a dor de filhos que perdem o pai ou a mãe para o vício do álcool. A dor de esposas de policiais honestos que morreram no exercício da profissão. A dor de pessoas que trabalham a vida toda e no fim são brindadas com uma aposentadoria que o impede de viver dignamente.

Que tipo de dor é a sua? Não tenha vergonha de senti-la. Você é humano. Jesus sentiu dor. Ele deixou claro para todos que os instantes de solidão cósmica que sua alma experimentou, doía profundamente. Por isto, como uma criança, ele fez questão de gritar na cruz.

A vida é, também, a arte de sentir dor sem deixar o rancor roubar-nos a candura da existência. Tão real quanto a dor é o amor de Deus. Tão forte quanto a morte é a presença do amado de nossa alma. Aquele que nos criou e gostou de fazê-lo. O meu desespero não está relacionado a todas as possibilidades de dor que, por ventura, venha viver e experimentar ao longo da vida. Meu maior medo é não perceber que a graça de Deus é suficiente para navegar no mar da existência e proporcionar-me um porto seguro todo dia pra minha alma.

Se você não tem medo de ser gente que sente, eu o convido a não ter medo de dançar com o sofrimento, quando este o chamar para valsar à força. Dance. Contudo, esteja certo de que a graça de Deus revelada em Cristo pode até não tirá-lo dos braços da dor durante uma ou duas canções. Mas, com certeza, no baile da vida eterna só haverá espaço para dançarmos com o eterno e amado de nossa alma.

Deus não me prometeu ausência de dor ao longo da vida. O que ele nos diz em letras garrafais e claras foi: “EIS QUE ESTOU CONVOSCO TODOS OS DIAS ATÉ A CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS“. Nenhuma dor pode roubar-me o prazer de deleitar-me no amor que emana daquele que é tudo em todos.

A ele seja a glória, ontem, hoje e eternamente. Amém.

Quando Deus não é o bastante

Quantas pessoas insatisfeitas você conhece além de você? Eu responderia que a maioria das pessoas que eu conheço está insatisfeita pelo menos com o cabelo, o nariz, a cor da pele, o excesso de celulite, com o trabalho, com a ausência dele, com o carro, com o peso, com a igreja, com o marido ou a esposa,  com o lugar onde mora, com a namorada ou namorado, com o presidente do senado (Jose Sarney), com a gripe suína, com a violência, com a polícia, com o time (meu caso), com os políticos, com …

Penso sermos uma das gerações mais insatisfeita da historia da humanidade. Será que o uso de drogas lícitas (bebida alcoólica, cigarro, Domingão do Fautão, Super Pop) e ilícitas ( Maconha, cocaína, crack e êxtase) são explicadas, também, à luz desta insatisfação quase que viral? Penso que sim. Esta epidemia tende a produzir pessoas que são facilmente seduzidas pelo apelo destes anestésicos existenciais. Gente insatisfeita que nao deseja morrer formalmente, opta por fugir por caminhos como o farmacológico e outros.

O ser humano sempre teve uma grande dificuldade em lidar com o real. Sempre que há uma proposta de caminho fácil ou atalho para se chegar mais rápido aos ilusórios alvos de seu coração, em constante fuga, a tendência natural, da maioria das pessoas, e se apressar em escapar da vida como ela é. É por isto que toda proposta que nos arranca das concretas e monótonas sensações do dia a dia, são buscadas com um alto grau de prioridade.

Sexo e jogo são dois bons exemplos de geradores de sensações extraordinárias. Alguém que desembolsa vinte, cinquenta ou mesmo duzentos reais para assistir a uma partida de futebol está em busca de pelo menos duas horas de picos de sensações. Palavrões, gritos ensurdecedores, histeria coletiva, abraços suados e músicas sem conteúdo estético dão o tom desta sessão de terapia sensorial anestésica. O sexo também é fortemente usado por esta geração de insatisfeitos crônicos. Tanto o sexo no universo conjugal quanto na orgia podem possuir um conteúdo em comum. Ambos podem estar sendo feitos única e exclusivamente como meio de se escapar da realidade nua e crua da existência.

Como este texto esta sendo tecido por um escritor cristão entende-se que após apresentar o caos de qualquer coisa, eu encerre com uma solução de quatro letras, Deus. Quero desculpar-me se irei frustrar alguns leitores previsíveis por não corroborar com esta expectativa. Pelo menos, não agora. Quero dizer que há uma boa razão para não fazer isto. Deus não consegue satisfazer os anseios de grande parte das pessoas desta geração.

Qual a relação da mensagem de Jesus com os anseios de grande parte de nós. Ele não apoia os escapistas escatológicos nem os pessimistas niilistas. Ele se opõe ao otimismo infantil dos gurus de autoajuda importados e nacionais e confronta o camarada que tem medo de viver a vida tal qual ela comparece diante de nós.

Se o que as pessoas querem é se anestesiar, devem afastar-se do Deus da Bíblia. Com certeza Ele não pode satisfazê-las. Ninguém sabe melhor sobre Glória e maldade do que Jesus. Todas as nossas experiências existenciais de sucesso e tristeza são ínfimas perto do verbo encarnado. Se o que esta geração ama e deseja e fugir das demandas do seu tempo ou descer do trem da história por achar que a viagem está desconfortável demais, o Deus da santa palavra não ira ser atraente pra ela. Isto porque ele não nos trouxe aqui para fazermos turismo na vida, mas para vivermos como peregrinos em chão sagrado.

A insatisfação é primariamente um problema da alma em estado de orfandade. Ainda que a ausência de afetos familiares e os cenários possam contribuir para isto, é a ausência de encontro do ser com o grande Eu Sou que mantém a viva e sedenta . Não há como um homem ser satisfeito por coisas ou pessoas. Nada, em absoluto, pode tocar-lhe a alma e acariciá-la.

O Deus que se revelou plenamente em Cristo não entrou na história para paparicar uma humanidade cheia de frescura e birrenta. Ele veio salvar-nos deste deplorável vírus da insatisfação. Ele veio ressuscitar o espírito que morreu no Edem. Ele veio dar visibilidade para visões embassadas que não conseguem enxergar na poesia da criação toda sua generosidade. Ele veio ensinar-nos o credo do Pai nosso para recitarmos com o coração. Ele veio dizer-nos que a morte agora só tem poder de gerar saudades nos que ficam e nada mais.

Deus não é o bastante para pessoas insatisfeitas, mas Deus é o único que pode salvá-las desta insatisfação crônica e erosiva. Que o meu Pai seja nosso Pai. E que o seu coração encontre satisfação Nele.

Refletindo a respeito das “Reflexões Honestas sobre Deus e a Vida”

A palavra refletir tem sua origem no ato de vergar, curvar e dobrar. Exigi-se de quem o faz concentração de espírito. Pensar dá trabalho. Os calos não são vistos, mas com certeza estão lá.

É por gostar de trabalhar desta forma que eu optei em lançar um blog com este título. O que pode exigir mais de seres pensantes do que debruçar-se sobre temas relacionados a pessoa de Deus e as possibilidades das mais variadas e absurdas da vida. Não consigo conceber uma reflexão sem a outra. Eu não consigo pensar a vida à margem dele, assim como não consigo pensá-lo longe da vida. E é por refletir desta maneira que me deparo com momentos de profundo desconforto existencial.

Não esperem frases de efeito nem esqueminhas empacotados de culturas alheias. Quem escreve aqui é um homem que gosta de sonho, mas prefere a realidade por mais desconfortável que seja. O Deus que vou apresentar não é subproduto de um inconsciente culpado e em constante fuga da vida, nem uma imagem e semelhança daquilo que espero que ele seja. Amo o Deus que se revela de forma explicita e sem máscaras nas páginas da Bíblia. Que plenamente se desnuda na pessoa de seu Filho e fiel representante, Jesus Cristo. Um Deus que ouve o choro de uma mãe desesperada no deserto com seu filho nos braços, como também se apresenta como uma pessoa que intervém para salvar alguns e abandona outros aos seus próprios desejos.

Quero lhes falar sobre esta vida que às vezes se apresenta de forma absurda e sem sentido. Qual o objetivo de pessoas nascerem e trazerem tanta alegria para um lar se três meses depois vão morrer e marcar um casal por toda uma existência? Por que pessoas sem caráter envelhecem, enquanto pessoas dignas e importantíssimas na construção da moral de uma nação falecem prematuramente? Se o ser humano depende apenas de um cenário físico e emocional para se desenvolver na direção certa, por que aqueles que cresceram em lugares assim se tornaram monstros e despertam os piores sentimentos de nossa alma?

Se você quer ler textos honestos sobre Deus e a vida, este é um blog que você vai gostar de visitar vez por outra. Que o Deus que sempre está presente, mas não necessariamente tornando o mundo redondo pra nós o tempo todo, possa ajudar-nos a viver de forma honesta a partir de reflexões também honestas sobre Ele e a vida. Amém.

Glalter Garcia Justo Rocha

Carta convite

Aos amados Pastores e Líderes da santa Igreja de Cristo, graça e paz.


Louvo a Deus pela vida de todos os irmãos que têm se dedicado a servir ao Senhor da igreja com inteireza de coração e simplicidade de vida. Que Deus, o nosso eterno Pai, possa recompensá-los por tamanha dedicação e fidelidade.

Creio não ser nenhuma novidade o momento, simultaneamente, glorioso e calamitoso por que a igreja passa em diferentes partes do mundo. Também acredito em que todos já perceberam que estamos vivendo um período de confusão generalizada acerca do que vem a ser um evangélico e qual a sua missão. Acredito não fazer muito tempo em que identificar um líder ou membro de seita e um evangélico não era algo assim tão difícil. Basicamente, o membro de seita era governado por um líder humano com traços luceferianos, na maioria das vezes, bem subjetivos. E ser evangélico tinha a ver com submeter-se a palavra da verdade ou a Bíblia como autoridade suprema sobre tudo e todos. A voz dos líderes deveria ser eco das escrituras e nunca o contrário.

Os reformadores do século XVI pareciam estar prevendo a necessidade do lema “Ecclesia reformata et semper reformanda est” (A igreja reformada está sempre se reformando) e a importância de aplicá-lo ao longo de sua peregrinação. Eles sabiam que a santa igreja podia, por causa dos seus membros pecadores, ter a necessidade de, tempo em tempo, passar por uma reforma.

Mas que reforma seria esta? Alguns a interpretam numa perspectiva litúrgica. Eles dizem que a igreja que sempre se reforma está conectada ao dinamismo de seu tempo e seus cultos devem ser animados e inclusivos. Segundo estes, uma igreja genuinamente reformada se caracteriza pela marca da animação litúrgica. Há ainda os que adquiriram fobia de templo e passam a reunir-se nas casas ou em pequenos grupos. Para os líderes deste movimento, intitulado segunda reforma, a igreja começou nas casas e deve terminar nas mesmas antes da volta de Cristo. Será que este movimento templofôbico pode ser caracterizado como expressão do lema dos reformadores supracitados? Com certeza não. O que realmente estes piedosos homens afirmaram nada tinha a ver com métodos, mas com valores relacionados com a vida e a beleza do Reino de Deus. Para eles, estes valores deveriam ser constantemente reafirmados e encarnados no cotidiano de todos aqueles que professam sua fé em Cristo Jesus. A igreja nunca deveria se desconectar da cultura e das pessoas capturadas pela cultura. No entanto, a Eclésia nunca poderia se submeter a qualquer valor cultural que roubasse sua identidade como agência do Reino de Deus na terra. Nosso discurso profético de denuncia dos pecados pessoais e sociais e da graça de Deus sempre deveria se fazer ouvir.

Reforma Hoje é o brado de um número muito maior de pessoas do que podemos imaginar. Pessoas de todos os estados e denominações anseiam por ver o lema da reforma tornar-se carne e habitar entre nós. Homens e mulheres oram e clamam para que Deus faça algo na vida daqueles que se declaram discípulos de Jesus. Pastores cansados de modelos importados e propostas mágicas. Líderes cansados de serem burocratas de uma instituição pesada e com pouca relevância no modus vivendi de uns cem números de pessoas.

Quero convidar todos os inquietantes membros do corpo de Cristo, principalmente sua liderança a participar do inicio de um projeto intitulado Reforma Hoje. Este projeto não se propõe a ser “a resposta” nem “o modelo mágico” de crescimento de igreja. Nossa proposta é unir cristãos confessionais e somarmos força por um avivamento bíblico. Onde passaremos a ter prazer na Lei do Senhor e nela meditar de dia e de noite. Onde a oração não será uma prática mágica, mas uma forma de alimentar o nosso coração para levar-nos a depender mais de Deus e servi-lo em obediência integral. Onde o evangelismo é visto como expressão do compromisso com a expansão do Reino e não como meio de disputarmos mercado. Onde a nossa presença incomode não por nossos conchavos e esquemas políticos, mas por nossa ética e compromisso com o bem estar de todos sem distinção.

Toda grande partida de futebol tem um pontapé inicial. E o nosso será no dia 24 e 25 de setembro (Igreja Presbiteriana de Itaparica – Vila Velha – ES) onde trataremos do tema: A teologia reformada e a formação do homem público. Será um tempo precioso e espero que desfrutemos dele juntos.