Quero iniciar esta pastoral com duas definições. A primeira diz respeito ao significado de herói. Segundo a tradição literária, herói é uma figura arquetípica que reúne em si os atributos necessários para superar de forma excepcional um determinado problema de dimensão épica. O termo herói designa, originalmente, o protagonista de uma obra narrativa ou dramática. Para os Gregos, o herói situa-se na posição intermédia entre os deuses e os homens, sendo, em geral, filho de um deus e uma mortal (Hércules, Peeseu), ou vice-versa (Aquiles). Portanto, o herói tem dimensão semi-divina. Já a segunda definição diz respeito aos racionalistas. Sem muita divagação filosófica é racionalista todo aquele que acredita que só podemos crer em algo que pode ser concebido pela lógica racional. Onde a razão é o fim de todas as coisas e o que não pode ser provado por ela não deve receber crédito. Um racionalista nunca conceberá uma serpente falando com uma mulher ou com a existência de um Deus soberano e bom com tantas atrocidades acontecendo no mundo sem que Ele, podendo, não se mexa.
Todos nós elegemos heróis ao longo da vida. Gente que chama a nossa atenção por suas palavras e feitos. Via de regra, elegemos indivíduos com características que admiramos, porém não temos oportunidade ou coragem para demonstrar. Ficamos estupefatos, quando os vemos superar obstáculos, aparentemente, intransponíveis.
Será que elegemos heróis ou criamos? Será que estes homens e mulheres por nós apreciados ou idolatrados são reais? Começo a chegar à conclusão de que não. Foi Cazuza, quem disse, em uma de suas letras que seus heróis morreram de overdose. Não seria o nascimento deles também produto de overdose? Começo a desconfiar que sim.
Começo a pensar que o excesso de algo ou a falta de alguma coisa nos joga para a obrigatoriedade de escolhermos ou criarmos heróis. Acredito que a ausência de um pai, no meu caso, fez com que me tornasse um caçador de heróis para ocupar esta lacuna afetiva.
Hoje, a dois anos de completar quarenta anos de idade, faço uma releitura destes meus heróis e percebo que o Deus da vida me conduziu por estradas tão diferentes das deles. Os meus heróis, infelizmente, optaram pelo chão das especulações filosóficas. Não creem na Bíblia como inerrante e infalível palavra de Deus. Recortam os textos, que pra mim são sagrados e geradores de esperança, como se nada significassem. Ainda ontem, me ensinavam a pensar com esperança e hoje desejam que eu apenas pense. Diziam-me, por exemplo, que eu deveria orar com fé na palavra de Deus. Hoje, definem oração como uma prática egoísta. Insistiam que o Deus das sagradas letras não poderia ser plenamente compreendido em todos os seus atos. Hoje afirmam que os alemães estavam certos, quando, no século dezenove, afirmaram que a Bíblia é uma grande produção humana e o deus que se revela ali, principalmente no Antigo Testamento, deve ser desconsiderado e combatido.
Não gosto de muita coisa na igreja evangélica em nosso país. Não gosto, por exemplo, de ser comparado com Edir Macedo, R.R.Soares, Valdemiro, Silas Malafaia, Apóstolo Estevam Hernandes. Sinto-me desconfortável quando as pessoas descobrem que eu sou pastor e passam a me tratar como um ser que detém poderes espirituais. Ou como alguém que não deu certo em área nenhuma da vida e optou por ser um líder religioso. Contudo, e apesar de tudo, não aceito que a estrada a seguir seja a da especulação filosófica, onde desacreditar de tudo, ou quase tudo, seja o máximo que podemos fazer em termos intelectuais. Ou que devemos abandonar o que a Bíblia nos ensina sobre Deus e a vida, e abraçar um caminho racionalista, onde a razão seja a fonte e o padrão infalível e inerrante de aferimento sobre a verdade. Pois nesta escolha acabamos por fazer uso de um movimento pendular da história e voltamos ao que nada mais é do que o antigo pensamento do filósofo sofista grego Protágoras, que no quinto século antes de Cristo (c. 480-410 a.C.) afirmou: “O homem é a medida de todas as coisas.” – tudo isto foi ampliado e chegamos ao século 21 não mais em uma sociedade antropocêntrica, mas em uma sociedade antropolátrica.
Amo a Deus por duas razões: por Sua obra em meu coração e por se revelar de forma objetiva e clara em Sua Palavra, sabendo que Sua revelação não é estática, mas dinâmica, ou seja, Deus não se revelou somente em Sua Palavra, mas também na História, pois a História é o palco da glória de Deus, como bem afirmou João Calvino. Eu não amo um Deus à minha imagem e que age conforme a minha semelhança, eu amo o Deus que se revelou nas páginas das Escrituras Sagradas e na História. Eu desejo viver para glória do Deus que não poupou Jesus em meu favor. Anseio por viver eternamente com o Deus que em Seu plano de redenção resolveu me alcançar e me dar o privilégio de servi-Lo de todo o meu coração. Eu amo o Deus que desejou ser meu Pai e não apenas uma divindade de causa e efeito, ou ainda pior: um deus sem causa nem efeito.
Meus heróis morreram de overdose da razão, pois as muitas letras os fizeram delirar; porém o meu Deus, o Deus e Pai de Jesus Cristo está vivo e ativo. Creio em Deus Pai todo poderoso, amém.
Pastor Glalter Garcia Justo Rocha